26 de agosto de 2010

Remoendo feridas

Hoje, remoí uma ferida. Literalmente.

É nojento, eu sei, mas eu adoro ter um machucadinho pra descascar. E foi praticando essa prazerosa (porém tosca) atividade que, notando o início de um sangramento pequeno, falei para mim mesma hoje: "ah Izabela, tá você de novo mexendo na ferida. Ela tá lá, quietinha, cicatrizando, mas vc tem que ir lá e cutucar.Assim ela não vai sarar nunca!"

Mas aí...(lá vem os pensamentos aleatórios) acabei me dando conta de que o termo "remoer uma ferida" faz sentido pra cacete. Poucas linguagens figuradas traduziriam tão bem tudo o que causa o "remoer de uma ferida". Eu, especialista com PHD em remoção de feridas (as literais) pude perceber que o que eu estava fazendo acontecia também de outra forma em algum outro lugar...

Consideramos uma ferida alguma coisa que nos machucou de alguma forma - de uma maneira que significou tanto que deixou uma marca. Quando é muito recente, ela ainda é dolorida e difícil de esquecer. A dor ainda existe, ali, chatiiinha e insistente. E quando esbarram no machucado então...é uma explosão de dor, às vezes até pior que no momento em que o ferimento aconteceu. "A ferida ainda está aberta", dizem. Não tem como abstrair, ela está lá, feiona. Quando você vai dormir, tomar banho, nossa, ela vem com tudo. Pra arrasar com você. Não deixa nem você se distrair.

Em condições normais, o tempo e as células em constante transformação são maneiros com o machucado e se unem para  transformá-lo em uma casca. Que também costuma ser feia pra caceta, mas já não dói mais. O aspecto cascudo, escurecido deixa claro que "o tombo foi feio" - isso não vai mudar. É fato consumado. Mas, felizmente, não mais incomoda tanto, e dá até pra passar um dia inteiro sem se dar conta da existência dele.

E é aí que entra a psicopata remoedora das feridas (eu), e tchuc, tchuc, tchuc na parada. O negócio está lá, quietinho, não me causa mais dor, está começando a virar passado. Mas uma força me atrai para mexer ali até arrancar algum pedaço. Qual é, não nasci com isso! E tome tchuc, thuc, tchuc. Pronto, tirei. Está sangrando. Um novo machucado. Uma nova dor, e o passado se faz presente. Sem necessidade nenhuma, e ainda por cima joguei todo o trabalho dos amigos tempo e células fora. Não fiz bem pra ninguém. Um novo processo de cicatrização vai começar.

Geralmente, até se tornar cicatriz, eu mexo umas duas ou três vezes em um machucado.Certamente, essas cicatrizes não ficariam tão grandes se eu não tivesse mexido tanto. Ou pelo menos poderiam ter sumido de vez mais rapidamente.

As cicatrizes podem ser consideradas marcas de luta e superação por muitos, e de fato são. Mas o tamanho da cicatriz não necessariamente pode significar o tamanho de uma dor inicial, mas sim uma forma equivocada de levar um problema muito sério. E aí, o que adianta, tantas marcas profundas e um resultado de ressentimento 10 x 0 em cima do aprendizado?

Remoer uma ferida não é saudável, a não ser que seja para curá-la.

É....vivendo e aprendendo com as nossas estranhas manias do dia-a-dia.

Um comentário:

  1. ótimo blog o seu, textos bem interessantes, na verdade acho que o motivo das poucas visitas é realmente a falta de divulgação. use twitter, facebook e etc... bjs se cuida e obrigado por visitar o meu blog.

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