25 de novembro de 2010

Capital do sangue quente do melhor e do pior do Brasil

O Rio é uma cidade com estrela. É lindo por natureza, enche de orgulho os seus moradores (e de inveja muitos dos seus vizinhos). Se o Brasil fosse uma escola, ele seria a gata mais popular da escola: tem vocação para ser protagonista. Talvez porque não existe nada parecido com ele nem no nosso país, nem em qualquer lugar do mundo. Eu posso dizer que amo a minha cidade. Afinal, o problema todo não está nela, e sem quem está nela.

A guerra que se consolidou durante esta semana está mostrando o tamanho da ira dos criminosos contra a tentativa de pacificar as favelas que até pouco tempo eram comandadas pelo tráfico. Os homens do tráfico, por sua vez, são (também) resultado do descaso do poder público com a educação dos mais pobres. Muitos crescem dentro das comunidades carentes vivendo em meio a armas, com pouca estrutura familiar, com chefes do tráfico como referências, e dessa forma, já chegam na adolescência com poucos motivos para valorizar a vida. Começando pelas suas próprias.

Não quero justificar a violência e a crueldade da bandidagem. Muito menos fazer uma defesa hipócrita dos "direitos humanos". Acontece que tem coisas que vejo todos os dias quando vou pro estágio, já na esquina da minha rua, e também nas redondezas de onde trabalho, que a minha rotina insiste em figurá-las como parte da paisagem, mas elas gritam indicando que está tudo errado: garotos e garotas jogados ao chão, dormindo, imundos, e totalmente despreocupados com a condição deplorável em que se encontram. Noutro dia, assisti à cena de um deles retirando do lixo encostado num poste um pratinho de alumínio com restos de comida, o qual ele pegou e comeu com a mão como se fosse um bicho. Logo depois, ele largou o prato no chão, e continuou andando.

Mas o que mais me preocupa é eles não estão ali por falta de escolha. Sabe-se que muitos preferem essa vida nas ruas a voltar para os seus lares, ou a viver em um abrigo onde terão comida e dormitório, mas onde também terão hora para acordar, tarefas a cumprir e seguir uma disciplina. Eu nunca estive em um abrigo para menores, portanto não posso afirmar se as coisas são tão tranquilas como o que escutamos falar. Mas, certamente, esses abrigos não ofereceriam calçadas como dormitório e nem serviriam restos do lixo para seus abrigados.

Um jovem preferir essa vida, sem o mínimo de dignidade, a ficar em casa ou a viver em um abrigo, para mim, não é distúrbio de personalidade, psicopatia, perversidade inata, nada disso. É sim falta de estrutura familiar, de assistência correta aos mais carentes, de uma educação de qualidade, que promovam atividades para formar cidadãos com motivação e expectativas de crescimento. Investimento em educação não é só prover um ensino de qualidade, mas estimular essas crianças a desenvolverem seus talentos, seja no esporte, ou nas artes, ou qualquer outra coisa que os fará crescer positivamente.Quantos projetos desenvolvidos em comunidades (como o Afroreagge, ou o centro esportivo da comunidade da Mangueira) acreditam nessas crianças e adolescentes e provam que basta apresentar um caminho, um novo sentido, para que eles tenham seus os olhos desviados do crime?

É por isso que procuro ter cuidado antes de condenar os já tão ignorados direitos humanos. Sou, acima de tudo, a favor da vida. Acontece que a maioria desses marginais nos parecem irrecuperáveis, incapazes de serem incorporados à sociedade como cidadãos que trabalham dignamente. A melhor solução parece ser matar, dizimar todos eles.

Eu, sinceramente, não consigo imaginar qual seria a melhor solução à curto prazo para combater a marginalidade e o crime organizado. Porém, convido aos convictos de que solução seria matar todos os bandidos a lembrarem que nós já os matamos quando optamos por ignorar as condições em que eles cresceram e só nos preocupamos em garantir somente "o nosso". Quando preferimos eleger governantes que vão garantir o bem-estar da nossa classe média em vez  desses malditos "assistencialistas compradores de votos" que só pensam em favorecer o povo de baixa renda com "projetos eleitoreiros".

Não vou nem me estender ao lembrar também da classe média financiadora do tráfico e nem das autoridades envolvidas no contrabando de armas e drogas, que fortalecem e alimentam uma rede milionária de criminalidade. Isso já é sabido. Você também é a favor de largar a bala nesse pessoal?

Um comentário:

  1. Olá, minha linda Bela!!
    Você escreve muito bem, parabéns!
    Me causou muita tristeza ao ouvir no elevador, nos corredores e nas ruas a expressão "tem que matar todo mundo!" e outras frases mais que de tão terríveis, me fizeram chorar! Concordo plenamente com você no que diz respeito a educação do nosso povo, especialmento das nossas crianças e adolescentes que precisam aprender a fazer boas escolhas, com pelo menos um critério: preservar sua própria vida e, consequentemente a dos outros... Claro que o "mal da sociedade" não se resume na violência urbana, mas com certeza, condições melhores de vida e boa educação amenizariam esse problema.
    Agora, bem que poderiam fazer uma mega operação nas cúpulas dos governos federal, estadual e municipal, fazendo uma boa limpeza, não a do extermínio físico mas uma limpeza moral nessas organizações, sem essas grandes influências, certamente nossa situação melhoraria e bastante!
    Mas não desconsidero a ação de "re"tomada dos territórios das mãos do tráfico, é pouco sim, tapa um buraquinho diante de tantos, mas tudo vai depender do desenrolar das iniciativas e medidas práticas mesmo que a longo prazo.
    Estou tentando escrever sobre isso, mas ainda não consegui um texto bom! rs.

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